O primeiro leão a gente nunca esquece
Já estávamos instalados na Rodolfo de Amoedo, 333. O tal prédio da Barra.
Nós nunca fomos bons de correr atrás de prêmios. Acreditem, isso é uma habilidade complementar a ser criativo. Claro, que sem ser criativo, a habilidade de correr atrás de prêmios não adianta nada. Mas ser criativo e não estudar direito como inscrever determinada peça, pode reduzir significativamente as chances de ganhar alguma coisa. Você precisa saber qual é a categoria certa, como construir o case – quando é case, como fazer o vídeo de apresentação – quando é possível e mais um monte de outras coisas.
E, ainda antes disso tudo, especialmente para a criação, muita persistência. Muitas vezes um projeto com potencial de receber premiações significativas precisa ultrapassar barreiras que podem parecer intransponíveis. Precisamos convencer o cliente (claro que isto é sempre muito facilitado quando está em linha com os objetivos de comunicação. Boa ideia desconectada dos problemas que precisam ser resolvidos tem grandes chances de morrer na apresentação ao cliente). Precisamos ver se a ideia se viabiliza. É cada vez mais comum uma ideia premiável não estar circunscrita a um modelo convencional de publicidade para TV, para meios impressos, para rádio ou mesmo para os ambientes digitais. Lembro aqui alguns prêmios relevantes da indústria da publicidade que partem de coisas improváveis. Como uma estátua, no caso da Fearless contra o búfalo de Wall Street. Como uma carta, no caso do Burger King, convocando o McDonalds para uma ação conjunta. Entre diversos outros. Isto é, precisamos correr atrás de tornar a ideia viável, seja lá que plataforma e moldura ela tenha.
É exatamente esta história que quero contar. Como vencemos a nossa falta de tempo, falta de ambição por prêmios, falta de estrutura para nos mobilizarmos por prêmios, falta seja lá do que for que não nos coloca tradicionalmente entre as agências mais premiadas nos festivais (mas, sim, gostamos de ser premiados e temos muito orgulho dos nossos prêmios, que não são poucos).
Havia um briefing. Aparentemente simples. Envelopar toda uma ação por doação de sangue para o HemoRio, via Governo do Estado do Rio de Janeiro, valorizando a semana do doador de sangue. A criação teve uma ideia que ultrapassava os limites do briefing. Imaginaram um anúncio com um furo físico num braço de uma pessoa retratado na peça. Mas não era somente um furo no anúncio. Era um furo que transpassaria toda a edição do veículo, de uma forma que não interferiria na leitura de nenhuma das páginas. Parecia um pequeno defeito do papel. Ao chegar na página do anúncio, onde este anúncio sairia, o furo estaria localizado naquele braço, só então o leitor perceberia que o furo era proposital.. Como uma mensagem simples: “Para você esse furo não faz nenhuma diferença. Para você. Doe sangue, esta é a hora”.
A primeira etapa foi vencida. O cliente topou. Mas, como viabilizar a ideia? Flávio Cordeiro conversou com vários jornais e revistas. Claro que obteve mais nãos que sim. Furar toda uma edição seria uma loucura. Do ponto de vista da qualidade de impressão dos veículos e do ponto de vista operacional. Mas o jornal Metro topou. Com uma condição: a Binder viabilizar o tal furo.
O que parecia mais uma barreira intransponível virou mais um incentivo. Um time da própria agência foi para dentro de um galpão da R2+M, cedido pelo Renato Gaudioso, furar a edição com martelo e prego e devolver para a distribuição. Vale aqui registrar todos os heróis desta história, que foram lá furar o jornal. A criação: Pedro Drable, Marcelo “Josué” Andrade, Leandro Bechara. O atendimento, Christina Santos, Dryelle Soares. O finalizador, Raphael Levy. O produtor, Pedro Esteves e a Gerente de Operações, Edileusa “Didi” Lima. Acreditam? Pois foi assim que tudo se tornou viável.
E, no dia da ação em comemoração a semana do doador, o jornal foi pra rua furado, com nosso anúncio lá dentro.
Mas, para ganhar um prêmio à altura da ideia e do esforço, não paramos por aí. A criação correu atrás, contaram tudo, roteirizaram, animaram, fizeram versão em inglês, trilha e ficamos um vídeo case excelente contando tudo de forma muito vendedora, incluindo os resultados incríveis de aumento de doação, após a ação.
E lá foi a inscrição para o Festival de Cannes.
Infelizmente, não estávamos naquela edição do prêmio, na Cote D’azur. E, num belo dia, o Diretor de Criação da Agência 3, o amigo Paulinho Castro, nos ligou de Cannes dizendo: ” – Galera, vocês ganharam um leão!” Ele estava muito entusiasmado por nós. Bem bacana. Obrigado Paulinho. Foi uma alegria só. Orgulhosamente autorizamos o Paulinho a subir no palco da Croisette para receber o prêmio em nosso nome.
Quando o leãozinho chegou na Agência, fizemos um banner enorme, cobrindo metade do prédio informando que estava chegando um leão. O troféu passou pela mesa de todo mundo da agência. Foi uma farra justa. Valeu todo esforço e persistência da criação. O primeiro leão a gente nunca esquece.