A festa da Democracia

Quando era mais jovem, fui presidente de grêmio. Independentemente do período em que exerci meu mandato, sempre achei lindo o processo de escolha do presidente. O colégio formava suas chapas e as chapas enfeitavam o prédio com materiais que defendiam suas plataformas, havia debate, discordâncias, projetos etc.. Era um exercício de democracia que não existia na vida real. Era o período de governo militar e o nosso direito ao voto era bem limitado. Talvez, por isso, eu ficasse tão entusiasmado com aquela festa toda. Era algo diferente da vida real – porque eu me entendi por gente no meio da ditadura, então nem sabia o que seria um processo de escolha por voto. E, na aula, isso não era abertamente tratado, talvez por uma limitação “legal” da grade curricular, que nos impunha Moral e Cívica e Organização Social Política Brasileira (OSPB), em contrapartida, por exemplo.

Aos poucos, com a abertura, fui reconhecendo no processo eleitoral aquela mesma festa que eu via no colégio. E, igualmente, sempre achei lindo o processo de escolha de nossos representantes. Por mais que nossas ruas ficassem sujas e nossas vidas fossem invadidas pelas promessas esdrúxulas dos diferentes candidatos. Sempre soube que nossa democracia era jovem, comparada com várias democracias do mundo, especialmente as do Velho Continente. Então, os deslizes, imagino eu, sejam parte do processo de amadurecimento da nossa jovem democracia. Também imagino que seremos melhores quanto mais madura e evoluída for nossa democracia.

Curiosamente, muita gente diz que odeia política. Mas, nestes novos tempos de redes sociais, todos estão podendo – e a maioria exercendo – apontar suas preferências, tentar convencer seus pares do que lhes parece mais adequado, melhor para um futuro que nós mesmos temos que construir, porque isso faz parte da democracia. Então, também estou achando lindo esta nova forma de a população exercer a política, dentro deste momento da festa da democracia. Mesmo quando se perdem as noções de limites, imagino eu, estamos vivendo esta festa. Talvez seja uma licença para discordar fortemente de nossos pares e enxergar a possibilidade de construir uma sociedade mais diversa, mais resultante de diferentes pontos de vista. Tenho consciência de que evoluímos quando somamos divergências, ao contrário do que nos tenta fazer crer a matemática dos algoritmos. Então, amigos, vocês que odeiam politica, sinto muito contradizê-los, ao se manifestarem, estão exercendo a política. E isto pode ser lindo, acreditem.

Muita coisa no nosso país precisa melhorar. É um bom momento para construirmos o caminho para as melhoras que, certamente, não acontecerão de forma mágica e nem dependem exclusivamente do líder, mas, sim, do conjunto de pessoas que estaremos elegendo. A discussão nos torna melhor, as discordâncias geram resultados mais plurais e a festa da democracia é linda. E pode nos fazer evoluir. Basta continuar existindo.