O comportamento por trás do conceito da chamada “Introvert Economy” não é novo e costumava ser chamado por outros nomes, como “estilo de vida caseiro” ou “home hub”. E tem semelhanças também com a tendência chamada “cocooning”, popularizado pela futurista Faith Popcorn ainda nos anos 80, associada a diversas mudanças no comportamento de consumo, como a preferência por passar mais tempo em casa, o investimento em entretenimento doméstico e o desejo por segurança e proteção de um mundo exterior percebido como ameaçador ou estressante.
A busca por um estilo de vida caseiro foi rastreada antes dos “lockdowns” da pandemia, mas, a partir dela, tornou-se mais evidente na geração Z e não traz consigo somente elementos positivos, mas alguns bem alarmantes, na visão de Allyson Rees, estrategista sênior da empresa de pesquisa e tendências WGSN. Segundo ela, jovens que perderam anos cruciais de socialização durante a pandemia agora enfrentam desafios para se adaptar a interações presenciais. Para muitos deles, que tinham entre 16 e 18 anos, houve perdas importantes de festas, encontros e interações.
Paralelamente, a pandemia transformou a vida em casa: as pessoas investiram nos seus lares, tornando-os mais confortáveis e funcionais. Trata-se de uma mudança duradoura para um grupo significativo. “As marcas perceberam isso e começaram a facilitar a permanência em casa, criando soluções para entretenimento, como aplicativos para organizar jantares e festas caseiras. Hoje há muitas oportunidades para se conectar com esses consumidores, nesse espaço”, diz Allyson no podcast “Lives of Tomorrow”.
Mas, especialmente, para a geração Z, passar a viver esse comportamento caseiro pode ser um sinal alarmante. Uma das tendências inerentes a este comportamento caseiro, no caso da geração Z, é o chamado “bed rotting” (algo como “decompor-se na cama”). Descreve a prática de passar longos períodos na cama, descansando, usando o smartphone ou dormindo. Embora para muitos isso possa representar uma forma de autocuidado e um reflexo do esgotamento generalizado que essa geração sente, pode trazer a reboque alguns extremos e importantes questões de saúde mental.
“Existe uma linha tênue entre promover esse comportamento e, ao mesmo tempo, encorajar as pessoas a saírem de casa. As marcas têm um papel importante em equilibrar isso, promovendo conforto em casa, mas também encorajando atividades fora, para que as pessoas não fiquem isoladas”, conclui a especialista.
O consultor e futurista Brian Sollis conta, em um artigo para o site worth.com, que, bem antes de 2020, suas pesquisas sobre o consumismo digital já exploravam como as redes sociais, os dispositivos móveis e os aplicativos sob demanda estavam moldando comportamentos digitais e mantendo as pessoas imersas em suas telas, muitas vezes à custa de interações presenciais.
“Os comportamentos dos consumidores estão mudando, e, somados, esses fatores indicam novas oportunidades de mercado, além de potenciais ameaças. Quem prestar atenção vai entender melhor onde fazer mudanças, testar ideias e aprender com elas. Empresas – especialmente aquelas nos setores de entretenimento, hospitalidade, tecnologia e bens de consumo – podem agregar valor em momentos cruciais ao oferecer produtos e serviços que promovam bem-estar e experiências significativas que façam com que sair de casa valha a pena”, destacou.
Segundo ele, com os consumidores se tornando mais conscientes de suas necessidades e prioridades, as empresas se beneficiarão criando produtos e serviços voltados para eles. São esses toques atenciosos que tornam sair, encontrar alguém, fazer compras etc. mais significativos e desejáveis. Ao mesmo tempo, os mesmos setores mencionados – entretenimento, hospitalidade e tecnologia pessoal – precisarão encontrar novas maneiras de alcançar os clientes onde eles estão – que pode ser no conforto de seus quartos.