Zanetti – “Quem não entender a tecnologia vai ficar para trás”
Alê Zanetti entrou para a publicidade muito cedo na vida, ainda na época de faculdade. Da criação, onde estagiou como assistente de arte, se interessou pelo planejamento e acabou indo para a área de atendimento: passou pelas agências Full Jazz, Upgrade, Agênciaclick, WMcCann, AlmapBBDO, Colmeia (atual Mutato) e Ogilvy. Atendeu grandes contas, como Pernambucanas, Carrefour, Magalu, Ambev, Embratel, Audi, Santander e Petrobras. Cinéfilo de carteirinha, depois de trabalhar em uma produtora de áudio, acabou se direcionando para uma produtora de filmes e “se encontrou”. Atuar diretamente na produção de filmes foi o caminho para juntar paixão e experiência. Neste papo, ele conta um pouco dessa história.
Ale, o que a publicidade ensinou para você?
Zanetti – A publicidade me ensinou muito. Uma ideia bem construída e um bom roteiro bem produzido podem trazer o mesmo entretenimento do cinema em poucos segundos. Podemos colocar uma marca ou uma ação na cabeça das pessoas e na boca do povo. Podemos fazer girar uma indústria riquíssima e ainda ter diversão, prazer, orgulho de criar uma mensagem positiva, fazer rir ou chorar, trazer emoção para a vida de muita gente. Mas também me ensinou que é apenas publicidade. Tem muito mais coisa muito mais importante. E, sendo só publicidade, deveria ter a leveza da publicidade.
Como o setor de produção vem se transformando em anos recentes e quais os principais desafios?
Zanetti – Vejo que, nos últimos tempos, as demandas cresceram em complexidade e quantidade de entregas, mas as verbas não. O digital trouxe consigo quantidade enorme de formatos muito além dos 30 segundos. E, com a chegada dos creators, também veio a possibilidade de um novo olhar para a produção publicitária cara e demorada. Mas claro que uma coisa não substitui a outra. O desafio é saber diferenciar o joio do trigo, e ter na produtora uma capacidade de entregas diversas. Tanto nos diretores e diretoras, quanto na expertise digital, temos que estar preparados para todo tipo de demanda e adequar cada talento ao desafio correto.
Conte sobre um trabalho recente em parceria com a Binder?
Zanetti – Um trabalho que temos muito carinho foi um filme para a Prefeitura do RJ com foco em combater o vandalismo. O roteiro tinha uma história interessante e transformamos essa história cinematograficamente trazendo suspense e tensão, sem deixar de entregar o briefing da melhor maneira.
Você realizou um treinamento na agência sobre processo de produção. Qual a importância de ações de letramento e aculturamento sobre a produção em publicidade junto às agências?
Zanetti – Esse é um assunto sensível. Venho notando em muitos clientes e até mesmo em agências uma dissonância em relação às ideias e aos roteiros com as respectivas verbas de produção. Além disso, muitas vezes também os prazos são incompatíveis com as entregas. A produção tem uma série de etapas que não podem ser queimadas ou puladas. Para fazer um orçamento certeiro, ou um tratamento/monstro sedutor, precisamos de pensamento, pesquisa, negociações, encontrar os profissionais certos, e isso não acontece da noite pro dia. Na produção, não é diferente. Uma produção corrida certamente vai nos limitar em opções e possibilidades de fazer as melhores escolhas para cada filme. A pressa na pós-produção vai pôr limite no capricho e refinamento que um profissional poderia ter sobre a cor do filme, os movimentos e as transições. Quando você recebe um pedido de orçamento para amanhã e entrega um filme em 10 dias, por mais que tenhamos talentos envolvidos, o melhor não será atingido. Mas, hoje em dia, os clientes pedem os valores e prazos que imaginam, muitas vezes sem qualquer conhecimento sobre todas essas etapas dos processos, e as agências repassam isso para as produtoras. Esse letramento/treinamento só vai fazer com que todos ganhem com isso. E a Binder tem essa visão, que posso dizer que é BEM diferenciada do mercado.
Como a tecnologia vem transformando a sua área? O que a IA trouxe para o seu setor?
Zanetti – A tecnologia avança em progressão geométrica e, na produção, não é diferente. Muitas histórias podem ser contadas de forma bem simples, outras realmente requerem mais produção, mas é inegável que tivemos nos últimos 5 anos uma evolução muito maior que nos últimos 50 anos. Tecnologias como Virtual Production, Unreal e IA nos deram possibilidades acessíveis para locações e produções caríssimas e quase sempre inviáveis.
Onde entra o humano, necessariamente, no seu setor e onde a tecnologia pode de fato acelerar processos e mesmo substituir pessoas?
Zanetti – Duas coisas não podem substituir o humano na produção: a criatividade e o trabalho especializado no set. A criatividade está na pré-produção, quando todo o filme é concebido, pensado em cada detalhe, planejado minuciosamente. A tecnologia entra nessa etapa como aliada. As referências, visuais, decupagem e desenho das cenas, locações ou cenografias, tudo tem que ser pensado por humanos, mas, com a IA, podemos ganhar agilidade em tangibilizar tudo isso. Desenhar um shooting pode ser feito em minutos, layout de arte e cenografia também, mas tudo dentro de um pensamento criativo que já foi concebido. Já o trabalho especializado no set, montagem de luz, posicionamento de câmera etc. tem toda a tecnologia do mundo, mas também é criado e concebido por profissionais que têm anos de experiência para fazer aquele trabalho fino acontecer.
Qual a sua visão sobre o futuro da produção do audiovisual em publicidade?
Zanetti – Quem não entender a tecnologia vai ficar para trás. A forma old school de produção ainda existe, mas o mercado precisa de agilidade e economia. É claro que ainda vão existir produções mais caras ou mais baratas, até porque a alta tecnologia também não é de graça, mas estamos antenados, sempre buscando especialistas atualizados com o que há de mais moderno na produção e, com isso, continuamos e continuaremos viabilizando as boas ideias.