Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, o psicólogo Christian Dunker afirmou que vivemos uma crise global na saúde mental. Entramos em setembro com a alarmante realidade de nos encontrarmos ainda entre os países com piores escores de saúde mental do mundo. Estudo global da Sapien Labs realizado ao longo do ano passado, consolidando as respostas coletadas de cerca de 500 mil pessoas em 71 países, revelou que a saúde mental permaneceu em um nível baixo, não mostrando recuperação para os níveis pré-pandemia. Em 2023, tanto a nível global quanto em países individuais, os escores de saúde mental (MHQ) mantiveram-se praticamente inalterados em relação a 2021 e 2022.
Este padrão persistente levanta questões indispensáveis sobre os impactos duradouros da pandemia e as mudanças comportamentais, como o aumento do trabalho remoto e o consumo de alimentos ultraprocessados. Gerações mais jovens, especialmente menores de 35 anos, sofreram as maiores quedas na saúde mental durante a pandemia, enquanto as pessoas com mais de 65 anos mantiveram níveis estáveis. O Brasil apresenta no estudo um MHQ médio entre 48 e 53, colocando-o próximo ao final da lista de 71 países analisados. Cerca de 35% dos respondentes no Brasil foram classificados como “distressed” ou “struggling” (em dificuldades ou lutando), uma das proporções mais altas entre os países pesquisados.
Segundo reportagem publicada no site da BBC News Brasil (bbc.com), em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por Burnout, o maior número dos últimos dez anos no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social. Entre os 178 afastamentos por Burnout em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um aumento de 136%. Em uma década, a quantidade de afastamentos por este motivo cresceu quase 1.000%. No Brasil, as únicas estatísticas oficiais disponíveis em relação à síndrome são contabilizadas pelo Ministério da Previdência Social, que apenas afere os afastamentos do trabalho por mais de 15 dias. Aqueles por menos tempo não são contabilizados nas estatísticas oficiais.
No episódio sobre saúde mental do podcast B.Trends, da Binder (ouça aqui), o psicólogo Flávio Cordeiro afirmou que o adoecimento mental nas empresas é uma construção cultural. Segundo ele, o Burnout é um sintoma de um ambiente empresarial que ignora o ritmo humano. “A OMS fala que a saúde mental inclui a capacidade do indivíduo de recuperar-se do estresse rotineiro. Como fazer isso se o meu ambiente de trabalho não permite esse espaço de restauração?”, questiona.
Para se aprofundar no tema, você também pode acessar nosso report especial sobre saúde mental (disponível aqui).