Em 22 de dezembro de 1849, o escritor russo Fiódor Dostoiévski, então com 28 anos, foi sentenciado à morte por atividades antigovernamentais, junto a 21 camaradas do Círculo Petrashevsky. Vendados e amarrados, aguardaram a execução. Dostoiévski, visivelmente mais tranquilo, apenas disse: “Estaremos com Cristo”. No último momento, um mensageiro suspendeu a execução, comutando a sentença para trabalho forçado.
Essa experiência moldou sua visão de vida, centrada no “sentido”, não no conforto ou no prazer. Dostoiévski, ao contrário de outros pensadores do século XIX, não escreveu uma obra específica sobre sua filosofia, mas a revelou por meio dos temas em suas obras. Vamos a ela.
A jornada é o destino: em “O Idiota” (1869), Dostoiévski sugere que a felicidade está na busca, não na conquista. A realização de grandes objetivos frequentemente leva à decepção e depressão; a verdadeira satisfação vem do progresso.
Estar vivo é abraçar a liberdade: em “Os Irmãos Karamazov” (1880), o “Grande Inquisidor” argumenta que a felicidade vem da conformidade, não da liberdade. Dostoiévski, no entanto, defende a liberdade moral, mesmo sendo dolorosa.
Cuidado com o palácio de cristal: em “Notas do Subterrâneo” (1864), ele critica a ideia de que a ciência e o governo podem resolver todos os problemas humanos, argumentando que isso nos desumaniza. O último século e meio trouxe progresso tecnológico que melhorou o bem-estar humano de muitas maneiras, é verdade. Mas sabemos dos efeitos desumanizadores do uso excessivo de mídia digital e smartphones ao substituir interações analógicas e relacionamentos pessoais. Dostoiévski argumentaria que enfrentar a angústia de estar completamente vivo no mundo real é muito melhor do que definhar, tranquilizado, no palácio de cristal.
A dor é essencial: no conto “O sonho de um homem ridículo” (1877), ele explora a ideia de que o sofrimento é necessário para o amor verdadeiro. A ausência de dor elimina a capacidade de amar profundamente.
Olhe para cima: em “Os Irmãos Karamazov”, ele sugere que a busca pelo transcendente é inerente à natureza humana. Mesmo duvidando do sobrenatural, argumentou que deveríamos nos sintonizar com a dimensão sobrenatural da existência humana, pois somente assim podemos perceber o que realmente desejamos na luta da vida.
Se, como Dostoiévski, você tem uma alma turbulenta, pode se beneficiar ao tentar abraçar seu caminho. Aqui estão, portanto, com base na filosofia do escritor, cinco conselhos:
- Foque na jornada, não na meta. Objetivos são meras intenções, não apegos.
- Questione tudo, pense e aja por si mesmo. A conformidade de pensamento e ação é mais confortável do que a liberdade.
- Evite as armadilhas narcóticas das distrações tecnológicas que roubam a liberdade de pensamento.
- Abrace a angústia da liberdade e da individualidade para experimentar o amor.
- Aceite e busque entender o transcendente. O mundo como o vemos não é tudo o que existe nem explica todas as coisas.
(Texto inspirado no artigo de Arthur C. Brooks, na revista The Atlantic)
Imagem de destaque criada com I.A.