Collab, do inglês, significa colaboração. No mundo do marketing, o termo collab se consolidou como uma parceria que tem como principal intuito trazer ganhos para todas as partes envolvidas: duas empresas, uma marca e um artista, por exemplo. Quando bem feita, a collab pode ajudar uma marca a expandir seu alcance, atingindo novos públicos. Pode impulsionar as vendas, o engajamento nas redes sociais, comunicar mensagens importantes, gerar curiosidade, visibilidade, ajudar a explorar novos nichos.
Conversamos sobre o tema com o carioca Alberto Pereira, um dos principais artistas de lambe-lambe (cartazes urbanos) do Brasil. Artista urbano, articulador e comunicador e realizador, ele teve seu trabalho apresentado em exposições individuais, coletivas, festivais de arte digital, urbana, chamadas públicas independentes e salões de arte contemporânea. Em 2016, criou o Lambes Brasil, focado na divulgação, valorização e produção de eventos e oportunidades aos artistas de rua produtores de cartazes urbanos em território nacional.
Confira os principais trechos da conversa.
A primeira Collab
“Minha primeira colaboração foi com a Adidas / Adidas Originals, no ano de 2016, para o relançamento do Adidas Gazelle. Foi um trabalho com foco em artistas da colagem, que circulou internacionalmente. Cada artista representava uma metrópole e no Brasil fui o escolhido para representar o Rio de Janeiro, junto à Yumi Shimada em São Paulo.”
Processo criativo de uma Collab
“É um processo relacional e que depende da marca, não tem uma regra. Às vezes rola uma maior liberdade, outras vezes existem especificidades e manuais a serem seguidos. Outro fator que você lida é com o tempo, o prazo e a urgência da entrega. Pra mim são dois caminhos diferentes e que mantenho separados: colaborações e pesquisa artística. Claro que por vir da mesma fonte, carregam uma identidade próxima, mas as motivações e as reflexões para cada finalidade são completamente distintas: um tem valor funcional, com o intuito específico e final de publicar algo, seja auxiliar uma venda, uma gestão de branding e imagem, alcance de novos públicos. Já o outro é valor reflexivo, não nasce com o objetivo direto da venda, embora em algum momento possa ser comercializado ou adquirido por uma instituição, empresa ou pessoa física.”
Resposta do público
“No geral, a galera que me acompanha recepciona bem as colaborações, até porque é algo que acontece desde o início, talvez porque antes de ser percebido enquanto Artista, sou Comunicador Social e Designer Gráfico por formação. Então muitos trabalhos acabam fazendo uma ligação involuntária entre essas áreas, abraçando um público que vai além do ‘público da arte’.”
Dependendo da colaboração, a marca valida uma maior importância ao colaborador, o que inclui não só a recepção do público, mas a possibilidade de fechar com outras marcas. O mesmo ocorre quando uma marca/instituição te representa. Quando comecei a trabalhar com a Aborda (empresa que me representa), senti do público e das marcas uma recepção diferente, muito pela possibilidade estrutural e profissionalização que envolve ter pessoas trabalhando em conjunto com você na construção e relação do seu trabalho com o mercado. Além de construir uma relação saudável entre Artista, Representante e Marca, a Aborda mostra às empresas que essas colaborações têm de ser incentivadas, pela identidade única que artistas podem oferecer a uma campanha. Por fim ressignifica o artista enquanto um trabalhador, tirando uma visão romântica e engessada socialmente da arte e de artistas como uma categoria alheia ao mercado.
Com que marca colaborar?
“Hoje, a escolha das marcas não é um trabalho unicamente meu, mas meu e da Aborda. Particularmente tentamos manter um equilíbrio entre atender projetos em instituições consolidadas e marcas pequenas também, que na prática são lidas como projetos pessoais, iniciativas de pessoas, coletivos e instituições independentes. Pessoalmente tenho esse senso da devolutiva social, e faço trabalhos por um valor monetário simbólico, voluntários, oficinas e alguma ação independente.
Acho difícil (até utópico) numa relação comercial garantir um alinhamento total entre os meus valores pessoais e as diretrizes de uma marca, então o que tento é trabalhar com marcas que estão em busca de maior promoção de equidade social, atentas à essa matemática do impossível que é produzir coisas danificando o mínimo no mundo que habitamos.”
Desafios das Collabs
“Acho que o maior desafio antecede o acontecimento do trabalho diretamente: entender o match entre marca e artista é sem dúvida o que vai fazer um trabalho fluir para ambas as partes. Já tive experiências ótimas de alinhamento entre marca, briefing e objetivo. Outras que foram mais truncadas, por conta de algum ruído no processo de comunicação, pesquisa ou briefing entre artista X agência X marca, não necessariamente nesta ordem. De todas estas experiências, acho que o maior dos aprendizados é ceder… Marcas, artistas, agências, representantes, todos compostos por pessoas, certo? O jogo das relações pessoais só funciona com concessões e negociações, então sigo nessa. A gente cede de um lado, pede do outro e equilibra as pontas lembrando sempre que é um trabalho em grupo, nunca 100% do artista, nem 100% da marca.”
Conselho para outros artistas
“Acho que o principal é explorar a própria linguagem e pesquisa. Os convites para colaborações vieram por meio dessa busca particular, e não da tentativa de encontrar as marcas. E quando acontecer o convite, lembrar que ele veio por conta dessa pesquisa, mas que nessa colaboração o trabalho vai ser fruto de uma terceira coisa, que é o alinhamento entre a sua identidade, a identidade da marca e as expectativas de ambos.”
O que vem por aí
“A colab mais recente foi para um projeto da Globo. Atualmente estou trabalhando em uma colaboração com o Museu de Arte do Rio (MAR) e a Escola do Olhar, para o fechamento de um projeto chamado Ateliê Poético junto a outros profissionais como o fotógrafo Douglas Dobby, o escritor Viajante Lírico e o time da Marginow.”
*Imagem destaque pelo fotógrafo Fábio Setti.