A tecnologia da empatia

É simples. Se em um exercício de abstração as pessoas tivessem a oportunidade de vestir, não somente os sapatos, mas também um pouco da história de vida daqueles que nos parecem diferentes, talvez pudéssemos nos aproximar também de seus sentimentos.

Ao compreender suas emoções, passaríamos então a nos importar com essas pessoas. Por meio de uma visão empática do mundo, o outro deixaria de ser apenas cenografia, backdrop ou fundo de tela em nossas vidas para finalmente se tornar um ser de carne, osso e, principalmente, coração. Do mesmo jeito que a gente.

Escrito dessa forma, até parece que é fácil.

Mas basta acompanhar as redes sociais ou ligar a TV para ver o quanto o outro, pela diferença de pensamento, de história de vida ou de crença é visto como um adversário a ser derrotado. Mais do que isso, como sua humanidade simplesmente se torna invisível. E o mais tenebroso: como nós mesmos também reproduzimos os mesmos pré-julgamentos.

Pois bem, em pleno SXSW, festival em que somos bombardeados com todas as novidades, as tecnologias, as disrupções e os dilemas que vão sacudir o mundo nos próximos anos, eu fiquei esperançoso.

Essa chave virou na minha cabeça quando participei da ação promocional “Nothing to Be Written”, feita em realidade virtual para a rede BBC. Meio documentário, meio projeto artístico, a produção mostra como os soldados nos campos de batalha da Primeira Guerra se comunicavam com suas famílias. Para não sofrerem censura, a comunicação era restrita a um pequeno postal de múltipla escolha, em que os militares podiam escolher entre poucas opções pré-definidas e assinar. Milhões de cartões foram enviados dessa forma ao longo de toda a guerra.

Ao me perceber em uma casa do início do século 20, esqueci dos fones nos ouvidos, dos sensores e dos óculos de realidade virtual e fiquei completamente imerso naquela história que acontecia ao meu redor, me aproximando da angústia dos familiares que esperavam por notícias de um parente. Ansiosos por um monossilábico e frio cartão com alguma informação sobre seu filho, diretamente do inferno.

E me emocionei quando um soldado entrou pela porta da minha casa para caminhar ao meu encontro, em meio a minha mobília e quadros de família, com um postal em suas mãos. Pude perceber a força dessa nova narrativa, tão falada aqui em Austin, que nos coloca no centro da ação e nos torna protagonistas da história, quebrando por completo as estruturas conhecidas.

Me veio, então, a esperança.

Talvez a tecnologia, de fato, possa ajudar a corrigir essa distorção em nossa visão de mundo, que aparentemente já vem de fábrica desde que nascemos não nos permitindo enxergar e aceitar o diferente. Como se, míopes, finalmente ganhássemos um par de óculos para mergulhar em uma nova e desconhecida realidade.

Apesar de todos os problemas que a vida intermediada por telas nos traz, será que a missão mais nobre da tecnologia ainda não está por vir?