Vai ser bom, não foi?

Falar em transformações em velocidade exponencial parecia analogia, metáfora, hipótese. Mas, olhando para a história, dá para ver que é real. O homem levou seis mil anos entre a invenção da roda e a colocação de algo em cima para ser movimentado por ela, no caso, uma carroça; e outros dois mil anos para pensar em colocar um animal para puxar essa carroça; uns mil e quinhentos anos para trocar o cavalo por um motor (carro); cerca de 100 anos para inserir uma caixa automática neste motor e, nos últimos 50 anos às transformações no carro quase que aparecem anualmente. Bastou imaginar e alguém já está desenvolvendo o carro que se autodirige. Não é ficção científica, é fato.

Mudança é a constante cada vez mais presente nos nossos tempos. Cada vez maior, cada vez mais rápida. Como disse Alvin Tofler: “Aprender a desaprender para reaprender é a grande habilidade para o século XXI.” Permanentemente estamos rasgando o escrito e escrevendo-o novamente. Além da velocidade, é um tempo de profundas contradições e posições extremadas, que são consequentes destas contradições.

Ao mesmo tempo em que falamos de um mundo mais fluido, com ambientes favorecendo estímulo ao empreendedorismo e, às inovações, convivemos com uma legislação amarrada, especialmente do ponto de vista trabalhista, no qual somos tutorados por uma CLT escrita na primeira metade do século passado, em que práticas como home office, por exemplo, não era sequer imaginada. Um mundo no qual a comunicação privilegia aproachs e práticas mais juvenis, mas observamos nas famílias, um crescimento da relevância financeira de provedores com mais de 50 anos. A população econômica com mais de 50 anos, já representa no Brasil uma Espanha inteira, ou duas Austrálias. Em 2045, seremos 93 milhões de brasileiros com mais de 50 anos e não estamos fazendo nada para cuidar deste indivíduo. Há um crescimento alentador da ideia do consumo consciente – ou do lowsumerism, a nova bandeira de nossos tempos; entretanto, grandes concentrações de riqueza, nas mãos dos grandes players digitais e as atuações cada vez mais forte dos procurements, indicam um futuro menos sustentável. Como explicar, então, que numa era na qual os preconceitos são quebrados, temos também um saudável aumento do empoderamento feminino, o surgimento de fenômenos como Trump, Marine Le Pen, e os movimentos vencedores do Brexit e da queda da proposta de acordo paz na Colômbia? Isto sem falar da enorme popularização das letras de funk completamente sexistas. Ainda reforçando esta observação sobre as contradições de nossos tempos, vemos um aumento da discussão sobre ética e transparência, ao mesmo tempo em que há uma invasão oficial da privacidade individual através da comercialização de nossos dados no mundo digital, e da permanente vigilância sobre nossos e-mails e smartphones, como pudemos comprovar no escândalo apontado pelo americano Snowden. Todos enxergamos um mundo com menos fronteiras, mais globalizado e, ao mesmo tempo, as novas corporações digitais se transformam em países virtuais, sem fronteiras aparentes, mas com leis próprias, acima e apesar de qualquer regulamentação regional.

No meio deste turbilhão, estamos nós, publicitários, processando tudo e nos reinventando todo dia. Não podemos repetir a Kodak, que perdeu a chance de inventar o Instagram, ou a Blockbuster, que poderia ter levado mais fé na Netflix. A grande vantagem é que nosso insumo é criatividade. E, através dela, temos que municiar o cliente com soluções adequadas a cada tempo. O ponto de partida é a criatividade, a ideia. Para nós, um plano de mídia, ancorado em pesquisas complexas bem interpretadas, também é uma ação de criatividade; é um produto estratégico e vital para o sucesso de qualquer ação de comunicação. Pensar em comunicação não interruptiva é uma realidade cada vez mais frequente, porque consumidores e adblocks assim exigem. E a comunicação não acaba quando vai ao ar: nos dias de hoje, ela só se inicia quando se torna pública. Uma comunicação que precisa ser distribuída a partir da lógica da ideia. Diante deste mundo, reimaginamos um novo fluxo de atribuições para nos encaixarmos. Somos executores, curadores, especialistas, disseminadores, agregadores, facilitadores, conectores e geradores. Uma ou mais destas coisas. Ou todas ao mesmo tempo.

E lá se foram 15 anos, e a Binder se reimaginando o tempo todo neste turbilhão em velocidade exponencial.

Bom, como dizia a piada, e os próximos 15 anos? Vai ser bom, não foi?